outubro rosa

Campanha convida mulheres a compartilharem relatos sobre o câncer de mama

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Foto: Divulgação

Uma campanha nas redes sociais busca alertar para a importância do autocuidado na prevenção ao câncer de mama durante o Outubro Rosa. Um coletivo criou a ação "Precisamos falar sobre o câncer de mama", para incentivar as mulheres que enfrentam ou já enfrentaram a doença a compartilharem suas histórias na internet.


O movimento surgiu a partir da percepção de que os diagnósticos de câncer de mama reduziram 59% em 2020 em função da pandemia no Brasil, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). No Rio Grande do Sul, a doença atinge 42,95 mulheres a cada grupo de 100 mil.

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E para começar esse movimento, três mulheres de Santa Maria resolveram contar as suas histórias. A dentista Joana Ramos, 34 anos, a jornalista Juliana Motta, 40, e a gerente de marketing Raquel Trevisan, 47, falam sobre o diagnóstico, as primeiras reações, como enfrentaram a doença e como se transformaram a partir do câncer. Elas convidam outras mulheres a se engajar na campanha. 

COMO PARTICIPAR

  • Compartilhe a sua história nas redes sociais (Instagram ou Facebook) usando a #precisamosfalarsobrecancerdemama.

JOANA RAMOS

style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">"Me chamo Joana, tenho 32 anos, sou dentista, mãe Pet do Theodoro, namoro há 14 anos (esse casamento sai logo!) e recebi o diagnóstico de câncer de mama em janeiro desse ano sem nenhuma predisposição genética e sem nunca ter feito exame de rotina anteriormente.

Do dia que senti o nódulo durante o banho até a primeira quimioterapia foram 35 dias. Eu tive muita sorte, pois o diagnóstico foi muito rápido. E como sabemos, o fator tempo é muito importante no prognóstico do tratamento. O pior dia não foi o do diagnóstico, para ser sincera. Saber o que tinha, me deu um certo alívio. O pior dia, sem dúvida, foi quando soube o subtipo. Foi aquele soco no estômago, aquela pancada na cabeça, alguns segundos sem respirar. Fui diagnosticada com o subtipo mais agressivo, chamado triplo negativo, comum para mulheres jovens. 

A partir daquele dia, soube que a batalha seria mais longa do que imaginei. Nunca tive medo do tratamento ou de não me curar. Nunca me senti doente, mas sim em tratamento. Eu confiei na medicina e sabia que precisava fazer a minha parte também. Então, depois "do pior dia", levantei a cabeça, respirei fundo e fui à luta. 

Não escolhi passar por isso, mas, já que iria passar, decidi que iria me esforçar para ser da forma mais leve possível. O tratamento me trouxe uma frase que levarei para o resto da vida: "você já percebeu que superou todos os piores dias da sua vida até hoje?"

Com total dedicação da minha mãe, me alimentei melhor. Com ajuda da minha irmã, que é fisioterapeuta, iniciei pilates (fiz durante todo o tratamento e continuo até então). Com apoio do meu noivo, me senti bonita e à vontade para fazer o tratamento no lugar onde me senti melhor. E o acompanhamento psicológico foi fundamental para percorrer, de forma mais tranquila, todas as fases do tratamento. 

O câncer não nos traz apenas prejuízos. Ele nos aproxima de muitas coisas que são engolidas pelo dia a dia, como da nossa essência, da nossa espiritualidade, das pessoas que nos amam e que amamos. Isso não é romantizar o câncer, não existe essa possibilidade, ele é tudo de ruim que falam mesmo. Mas, só quem passa por ele, sabe o quanto precisamos ressignificar nossas dores para continuar a vida com um propósito real. A gente aprende que não há tempo para desperdiçar porque o medo da recidiva sempre vai existir. Mas, sem esquecer que o câncer fez parte da minha vida, ele não é a minha vida

Estou finalizando as radioterapias, última etapa do meu tratamento. Para você que está entrando nesse mundo agora ou enfrentando as quimioterapias, desejo força e paciência. Não se esqueça, os piores dias também passam. Procure ajuda, eleve sua fé, fale sobre os seus sentimentos, tenha oncofriends.

Durante o tratamento, pelas redes sociais, acompanhei muitas histórias que me inspiraram e me ajudaram a enfrentar essa fase. Coragem em compartilhar nossas fraquezas pode parecer um pouco invasivo. Assumir quem a gente é, nossas vitórias e nossos fracassos pode ser inimaginável para alguns. Eu decidi expor pelo simples fato de poder ajudar alguém, uma pessoa que seja, já valeria a pena. Tive a oportunidade de ajudar pelo menos 8 mulheres diretamente. Eu acredito no poder da comunicação no tratamento. Por isso, #precisamosfalarsobrecancerdemama."

JULIANA MOTTA

style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">"Ainda recordo o momento em que achei aquela bolinha tão pequena na minha mama. Estava no banho. Fiquei intrigada. Nunca a havia notado, mas ela estava ali. Esperei por um mês que ela sumisse. Esperei em silêncio, sem contar para ninguém. Eu, jornalista, comunicativa e com acesso à informação, estava paralisada. Tomei coragem, contei para meu marido, fui ao médico e comecei a maratona de exames.

Em um mês, o que então me paralisava, agora me tirava o chão. A dúvida foi substituída pela certeza: eu estava com câncer aos 38 anos. Minha filha tinha apenas cinco. Anos antes, eu havia perdido uma grande amiga para o câncer de mama. Não preciso dizer o que pensei. Antes de me levantar, eu ainda cairia mais um pouco ao receber a recomendação de quimioterapia. Não se tratava "apenas" de um câncer, era um tumor agressivo. A doença, que os mais antigos sequer repetiam o nome, carrega um estigma enorme de dor, medo e sofrimento.

No início, me perguntava "por que eu"? "O que eu fiz para merecer isso?" Aos poucos, fui percebendo que não adiantava me questionar o porquê de eu estar vivendo aquilo. A questão era "para quê". Para que eu estava tendo essa doença? O que eu precisava mudar na minha vida? O que era preciso aprender? Nada pode ser em vão.

No meu tempo, fui compreendendo que a doença pode não ser um fim, mas o início de um processo de cura e autoconhecimento no sentido mais amplo. Decidi que a medicina, por óbvio, ficaria com os médicos. Eu cuidaria de todo o resto. Daria condições para que o meu corpo e a minha mente aceitassem o tratamento. Então, mudei hábitos alimentares e o exercício físico passou a ser um compromisso quase diário. Fazia caminhada, yoga, meditação, terapias integrativas. Também tive acompanhamento psicológico e, muito, muito apoio da minha família. O tratamento não é fácil, a gente desanima e cai muitas vezes. Por isso, é preciso ter alguém do nosso lado para nos ajudar a levantar com mais força. 

E aos poucos, fui fortalecendo a minha força interior, a minha fé na vida, a minha fé na ciência. Os tratamentos estão muito avançados. Fiz quimioterapia, cirurgia e radioterapia. Tive os melhores resultados possíveis. Não tenho do que reclamar. O câncer ficou no passado. Mas o que ele me ensinou eu não vou esquecer jamais. Eu aprendi a dar valor ao que, realmente, tem valor. Acordar de manhã, abrir os olhos, ter saúde e um dia inteiro pela frente é um presente! Hoje, eu me sinto mais saudável, com mais energia e vontade de viver. 

É por isso, que eu faço um pedido para você mulher: faça seus exames anuais, se toque, conheça o seu corpo. Os exames são fundamentais para o diagnóstico precoce. A prevenção é cuidar da saúde, do corpo e dos pensamentos. E você, mulher que já teve câncer de mama ou ainda está em tratamento: junte-se a mim nessa campanha. Compartilhe o seu relato. A gente precisa falar sobre o câncer de mama." 

RAQUEL TREVISAN

style="width: 50%; float: right;" data-filename="retriever">"Em junho de 2018 eu vivia uma das maiores alegrias da minha vida: havia chegado o tão sonhado 15 anos da minha filha. Preparamos uma linda festa, cheia de significado e amor. O que não fazíamos ideia é que tudo ganharia mais valor ainda exatos 15 dias depois, quando peguei uma mamografia de rotina. Nela tinha algo que nunca eu havia lido: Biradis 4C.

O meu chão se abriu quando vi no Google o significado: alta chance de ter... câncer! Uma palavra tão temida e cheia de medos. É como se o chão se abrisse num enorme buraco. O ar faltasse. Como se uma faca cortasse o teu coração, junto com o teu futuro, os teus sonhos e o teu planejamento. Só tem medo, dor, sofrimento e incerteza na cabeça. O que virá pela frente? Para uma mulher, com o câncer de mama vem junto a imagem da perda da feminilidade, o seio, os cabelos... Pode parecer pura vaidade, mas é muito mais que isso. É muito mais profundo. É perda de referência e de identidade.

Eu tive que fazer uma mastectomia na minha mama direita. Eu tinha 45 anos. Ficar sem um dos seios, cicatrizes enormes, falta de movimentos, dores. Depois, seios disformes até a reconstrução. Foi um processo longo de quase um ano. Três cirurgias. Parar de trabalhar ou de gravar os vídeos? Ele não ia me tirar isso também. Mas lidar com a minha imagem disforme no vídeo foi desafiador. Tudo doeu muito. No corpo e na alma.

Com o câncer ficamos frágeis, com a autoestima abalada. Sei que quem me olhava não tinha essa percepção, mas foi tudo muito sofrido. Ao mesmo tempo que eu chorava eu agradecia por ser uma privilegiada: não precisei fazer quimio e nem radioterapia. Eu tive acesso a tratamento digno e de ponta. E quem não tem?

Passado tudo posso afirmar: o câncer é muito menor que a mulher que me tornei.

Nunca pensei que fosse morrer. Eu tinha muito mais para viver! Tinha que ficar boa para criar a minha filha. Ao ver como fui privilegiada, descobri uma nova missão: mostrar para outras mulheres que uma mama não nos define! Que o câncer pode não ser a reta final. Que rapidez de diagnóstico é vida.

Descobri em mim uma força que não sabia que existia. Força para acabar com um casamento infeliz. Para mudar de trabalho, de casa e de cidade. Aprendi a valorizar mais a mim mesma, o tempo presente e o que me faz feliz. É como diz a frase tatuada que fiz junto com a data da retirada do câncer: "o que não me mata me deixa mais forte (30/07/2018)."

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